segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Addis para iniciantes

Naquela manhã, após acordar com os breves momentos entre "ai que sono", "que cheiro de pimenta é esse?", "onde estou?" e "quero dormir mais", saquei estava acordando na Etiópia. Pela primeira vez. Um breve momento de alegria por estar acordando pela primeira vez no continente africano e ao mesmo tempo ainda cansado por ter dormido pouco. Meio cansado e lerdo por ter acabado de acordar, foi passando na minha cabeça imediatamente todas as referências de Etiópia que já tinha visto na vida. De trás pra frente, como uma fita de videocassete em função Rewind. Desde as muitas coisas que já havia pesquisado sobre o país meses antes até a primeira vez que fiquei sabendo que a Etiópia existia. Fui mentalmente transportado para Araújos, em 1994. Quando comecei a colecionar o álbum de figurinhas "Ping Pong - Records Guiness", uma das primeiras figurinhas que adquiri para o álbum. Fiquei maravilhado com a descoberta na época. E nunca mais me esqueci do país. Normalmente as pessoas tem uma visão da Etiópia ruim dado ao fato da crise de fome que o país passou na década de 80. A minha não poderia ser mais positiva. Guardo esse álbum (completo) até hoje e não me livro dele de forma alguma.

Após acordar, um breve momento para "malhar". Tinha trazido um pequena kit malhação (que se consistia basicamente num cano elástico super versátil) e uma lista de exercícios pra fazer com o próprio corpo pra ver se acabava não perdendo muito do que havia duramente conseguido na academia meses antes. Não adianta, são cinco meses malhando e um pra desfazer de todo duro progresso. Queria fazer diferente daquela vez. mas infelizmente a rotina de malhação durou poucos dias. Se no Brasil tem de ter muita força de vontade pra manter regularidade na academia, viajando tem de ter 10x mais. Mas ainda vou conseguir um dia. Juro. No final da viagem já estava novamente na terrível forma de magrelo e flácido como minha genética insiste em manter.

Nosso confortável quarto


Depois de malhar e esperar o Robert fazer o ritual de acordar (que dura por vezes, horas) hora de tomar o café da manhã do hotel. Era o mesmo local do restaurante, mas naquele momento, era dia. Com muito mais pessoas. O interessante é que o restaurante do hotel possuia um vidro enorme que recobria toda a parede do lado para a rua, de forma que dava pra ver a vida passando na rua de uma forma bem clara. E que vida! Carros velhos abarrotados tentando atravessar em meio a pessoas cruzando por todos os lados. Pessoas de diversas etnias, cores e panos (julgo eu sendo por motivos religiosos ou pela região da Etiópia que ela tem origem) passando. Pessoas carregando umas 10 galinhas pelos pés em cada braço. Pessoas carregando algo que parecia palha sobre a cabeça e que fazia um volume muito maior do que o corpo dela. Mulheres com roupas coloridas, mulheres muçulmanas com roupas nada coloridas. Cabras (muitas cabras). Aparentemente muito barulho, mas nao dava pra escutar. Como um caos silencioso.


Restaurante do Hotel
 E o café estava ótimo. Para quem não sabe, o café é originado da Etiópia, de suas regiões mais altas. Foi um dos primeiros lugares a cultivar a planta e fazer o café. Inclusive existe o "ritual do café" (explico em outra oportunidade). E como eles já fazem café a (creia) muitos anos, o café deles é delicioso. Nada a ver com o brasileiro, é mais encorpado e com uma borra grossa no fundo. Lembra muito o café artesanal. Em Araújos, minha mãe já chegou a plantar e fazer café totalmente artesanal. É um café que não é tao forte, mas você sente seu sabor mais claramente. o que me leva a pensar que o café industrializado leva altos aditivos que muda seu sabor totalmente. Além do café, umas frutas, uns croissants (pessimos) e a comida tradicional etíope (delícia). Éramos os únicos "brancos" do hotel, e ao mesmo tempo que estava ansioso para explorar a cidade, estava batendo um leve medinho pelo desconhecido de se embrenhar no sujo, pobre e "lugar onde claramente vc é o diferentão e todos vão ficar te olhando". Além de tudo, tenho 1,95 de altura, seria meio difícil passar despercebido por ali.

Hora de explorar a cidade, saímos de cara para conhecer um lugar conhecido como Merkato. Um dos maiores mercados ao ao livre da África (alguns dizem ser o maior), era (no mapa) perto do hotel, então fomos andando. Ainda não acostumado ao caos do dia em Addis, fui andando e reparando admirado em absolutamente tudo, como um araujense em Belo Horizonte pela primeira vez. O Merkato é um lugar impossível de ser conhecer tudo, fomos dando voltinhas aleatórias e explorando o lugar onde se vendia de tudo, de eletrônicos a itens de magia negra, de cenouras a moedas antigas do Império Axumita (proibidas de serem vendidas por lei).
Caos do Merkato

 A maior personificação do caos, não havia  muito espaço físico para todos, (e aprendi rápido que quando havia espaço físico e as pessoas abriam espaço era pq um caminhão estaria passando por ali em breve) e nao tinha pego o ritmo das pessoas e ficava na frente do caminho de pessoas carregando pesados e volumosos fardos, que me deixava incomodado por estar atrapalhando o trabalho alheio. Além de que sendo os unicos gringos do lugar, por vezes alguns nos abordavam tentando dizer algo. Por ser o começo de viagem, tentava nao dar atenção, pois poderia ser pessoas tentando "fazer amizade"para passar um golpe logo logo; ou poderia ser pessoas genuinamente legais querendo fazer uma nova amizade. Estava tímido, receoso e acuado, seguia em frente.
Super normal

Depois de muito caminhar no Merkato, resolvemos ir na Saint George Cathedral, uma das mais importantes da Etiópia. os Etíopes reverenciam a São Jorge muito mais que qqr outra religião cristã. Há imagens de São Jorge matando o dragão em todo lugar, não só nas igrejas. E tb há várias versões do Santo, e obviamente aqui, a mais comum é um São Jorge negro. Chegamos lá, a igreja estava fechada para turistas, pois ainda estava acontecendo uma celebraçao lá dentro. Esperamos sentados no banco da pracinha enquanto um etíope nos abordou para nos "dar uma aula sobre a igreja". Nada que o livro do Lonely Planet não dizia, mas obviamente procurando por uns trocados fáceis de gringos, (claro que nao conseguiu). Terminada a celebraçao e por um breve momento de espera, o religioso responsável pela igreja veio nos abrir a igreja em um tour. Nesse momento, alguns outros gringos estavam presentes. Foi péssimo e caro. Aquele típico tipo de tour em igrejas onde "em respeito ã religião, não se pode fazer absolutamente nada, mas são sempre muito caros.
Igreja de Sao Jorge de Addis

Após isso fomos ao Museu nacional da Etiópia, no caminho, um outro lado da cidade, menos caótico, mais "cidade", crianças saindo da escola, pessoas jogando tenis de mesa na rua, lugares asfaltados. uma vida diferente por ali.
A caminho do museu nacional

O Museu nacional da Etiópia é um lugar que realmente vale a pena. Entrada não é cara, sem enganos nem taxas escondidas, sem guias, e com muitas coisas interessantes, ele possui andares, e em cada andar relata um período histórico do país.
Andares do Museu Nacional da Etiópia

Lá você encontra as pinturas dos Lagos de Bahir dar. Muitas delas inclusive se perderam por algumas enchentes lá ocorridas. Olha que lindo e enorme.

Mas o grande highlight do museu e a ossada de Lucy, o mais antigo fóssil hominídeo já encontrado no planeta. De 3,2 MILHÕES de anos atrás. Um fato curioso, o nome "Lucy" veio em decorrência da música "Lucy in the sky with Diamonds" dos Beatles, pois na época da escavação em 1974, essa música simplesmente não parava de tocar por ali nas sofridas noites do deserto Afar. E, o nome do fóssil da brasileira Luzia, fóssil mais antigo das Americas de 12.000 a 13.000 anos, encontrado aqui perto de BH em Pedro Leopoldo, veio em homenagem à etíope Lucy. Pois é, Beatles influencia a história.
Fóssil de Lucy, o mais antigo hominídeo do mundo.

Terminada a visita, saindo do museu, me assustei com uma enorme cabeça de pedra no jardim, era algo enorme e parecia ser de uma civilização etíope antiga, e me perguntei imediatamente "Pq diabos eu nunca ouvi falar nessa civilização maravilhosa, quero saber mais". Aproximando da peça descobri que era uma cabeça Olmeca, presente do México pra Etiópia,. (México que me aguarde). Hora de voltar para o hotel, percebemos que fizemos absolutamente todo o trajeto à pé naquele dia, estavamos exaustos. Tentamos negociar um taxi, mas o preços estavam extra abusivos. É uma tristeza negociar transporte de algo que nao tem preço fixo, pois sou simplesmente pessimo em pechinchar e os caras lá jogam o preço umas 6x mais caro que o normal. Ao contrário de outros países, os etíopes sao irredutiveis, nao abaixam o preço para gringo. Existe meio que uma cultura local que o gringo deve pagar mais por tudo, e eu acho isso pessimo, pq ao contrario do que os Africanos pensam, nem todo gringo é rico, e eu sou um claro exemplo disso, sou economico e tenho um orçamento limitado. Sem paciencia e mesmo cansado, fizemos um outro longo trajeto a pé para o hotel. Que nao foi lá, tao ruim assim.





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