quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A primeira impressão não é a que deveria ficar

Inicialmente aqui cabe uma menção. Normalmente quando chego a qualquer país novo, todos os meus sentidos se abrem. Começo a reparar em tudo as ruas, como as pessoas se vestem, os cheiros ao redor, os barulhos e músicas ao redor, tudo e em pequenos detalhes. Como se meu cérebro fosse um computador e eu estivesse preenchendo uma nova pasta com informações do novo país, como se isso o definisse. Com toda certeza, as primeiras impressões que você tem sobre um país, nunca são aquelas que, de fato, o definem. Mesmo tendo consciência disso, não consigo parar de fazer isso nunca. Afinal, naquele dia, Addis Ababa estava calma, as ruas com poucas pessoas, algumas lojas/bares/não sei oq com pisca-piscas de natal contrastando com as ruas mal iluminadas, pessoas reunidas numa esquina assistindo TV, asfalto com buracos no centro da cidade, entulhos de obras em diversos lugares, etc, não definem a Etiópia; de forma alguma. Mas meus olhos e ouvidos não paravam de procurar curiosamente algo para entrar na recém criada pasta “Etiópia” em meu cérebro.


Depois de uns 20 minutos de carro, chegamos ao hotel. O fato é que não era o hotel que havia fechado com antecedência pela internet, mas um claramente inferior e que claramente daria alguma comissão para o sorridente motorista.
Essa foi minha primeira lição da África, situações como essa acontecem absolutamente a todo momento, e você tem duas alternativas, brigar/argumentar ou ceder.
Como sou sempre uma pessoa extremamente covarde e tímida pra tudo, certamente iria ceder e aceitar o hotel inferior e perder o que já havia pago pelo outro; para não ter de discutir/argumentar/passar-horas-tentando-explicar-a-confusão-que-eles-certamente-já-sabiam-que-iria-acontecer-mas-querem-te-fazer-passar-por-essa-situação-desagradável,-te-fazer-ficar-sem-graça-e-ceder. 


Mas para a minha felicidade, tenho a sorte de ter o melhor companheiro de viagens ever, Robert é muito mais do que um companheiro, ele me completa. Completa em coisas que eu sou incapaz de fazer, me completa pq me estimula a fazer coisas que não faria sozinho, me completa pq sugere fazer coisas que não enxergava e é um problema em potencial, me completa pq um preenche as lacunas que o outro tem (sem piadas plz¬¬). E nesse sentido faz muitas coisas que jamais faria em minha vida, do tipo, brigar com taxistas russos, fazer uma ligação internacional falando em inglês para reclamar de um valor cobrado numa reserva nos EUA, puxar conversa com pessoas na rua para pedir informação mesmo não falando o idioma da pessoa no Laos, barganhar preços na Tailândia, Entrar em ônibus desconhecidos no Egito, enfim... Robert = <3. Não que viajar sozinho seja ruim, nas vezes que o fiz, foi ótimo e tudo também deu certo. Mas é que ele facilita muito minha vida, e foi o que ele fez naquela noite.


Ele entrou no hotel, e foi conversar com o chefão da empresa de turismo e explicar a situação. Segundo ele chefão com cara de chefão mesmo a La “Rei Do Crime” versão Etíope. Eu fiquei covardemente no carro em posição fetal. Momentos de agonia depois, voltam todos ao carro, e o motorista agora não tão sorridente, nos conduz ao hotel correto.


Uma vez no hotel certo, no quarto certo, hora de fazer tudo aquilo que já devia ter feito a tempos, como ajeitar as mochilas, as roupas, tomar banho, comer e aproveitar o conforto do hotel. Hotel este que de longe foi o mais confortável hotel que fiquei na Etiópia, quartos com cômodos grandes e largos, cama excelente, restaurante interno, etc.
Naquela noite não tinha outra coisa em mente a não ser comer e dormir, fomos ao excelente restaurante do hotel. E daí vieram os primeiros choques culturais. Aquelas pequenas coisas do dia-a-dia que ninguém repara, mas se são coisas que não são da sua cultura você estranha na hora como o fato dos Etíopes colocarem pimenta em absolutamente tudo, inclusive na melancia. Que a pizza deles se consiste numa massa, e com vegetais em cima, nada de queijo (que não vi em momento algum na Etiópia), nada de carnes. Alguns tomates, milho, pimentão e manjericão como estamos acostumados, mas também coisas como vagem, e outros legumes não-identificados. E isso não é nada ruim, é diferente! E isso é o que me encanta. Muitas pessoas falam das diferenças culturais entre um país e o Brasil como se fosse algo negativo. Mas tudo isso pra mim é experiência em cultura estrangeira, e tudo é ótimo, tudo conta, tudo é maravilhoso. Desde a “pizza” de vegetais, a pimenta em tudo (detalhe, não gosto de pimenta), a todo mundo reparar na minha altura e nos meus alargadores, (pelo menos alguém repara neles : (. ). Minhas descrições serão cheias de detalhes acerca das diferenças culturais que consegui perceber.

A Etiópia tem sua religião própria. O cristianismo ortodoxo Etíope. E como toda outra religião ortodoxa, tem sua característica própria; apesar de sentir um elo intrínseco entre todas as religiões ortodoxas, na arte como um todo.
O que mais me admira na religião da Etiópia é que o país sempre esteve rodeado de países muçulmanos por todos os lados. Sofreram ataques, invasões, igrejas destruídas, pressões internacionais, mas sempre se manteve firme e continua com sua maioria da população cristã. Os muçulmanos são maioria em algumas regiões do país, principalmente nas áreas mais desertas e ermas. Há ainda outras minorias como as crenças tradicionais africanas, Judeus etíopes(!!!), lá conhecidos como “falasha”, e os rastafári (sim! É uma religião, falarei sobre essa curiosa religião aqui em alguma outra oportunidade). Mas de qqr forma, mesmo tendo uma imensa diversidade religiosa, os cristãos etíopes continuam sendo maioria, principalmente nas grandes e históricas cidades.


Jantar feito, hora de dormir. O hotel era do lado de uma mesquita. Pouco depois de dormir, às 5:00 já escutava a melodia de chamado para a oração, como é de costume muçulmano. Mas uma coisa que não sabia era que a melodia do canto de chamado para oração varia de lugar para lugar, e em alguns lugares são inclusive de caráter livre. A melodia cantada pelo cara da mesquita era absolutamente linda. A mais bela melodia de chamado de mesquita que já escutei. É uma mistura louca de escala árabe, com menor harmônica, com traços pentatônicos e um tiquitinho de quartos de tom aqui e ali. Parece louco, mas era linda.

Como estava muito empolgado, mesmo cansado, não consegui dormir mais, agora era esperar no mínimo umas 4 ou 5 horas até o Robert resolver criar vergonha na cara e querer levantar e explorar a cidade...


Addis Ababa

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